O Homem da U.N.C.L.E. estava à frente de seu tempo e mudou completamente o gênero de espionagem. Apresentou ao público um agente americano encantador, um cool contraparte russo e uma série de missões exageradas que mantinham os espectadores voltando para mais. Assim, quando o remake cinematográfico de 2015 chegou, com Henry Cavill e Armie Hammer nos papéis principais, havia um legado a ser honrado. Mas, embora o filme tenha entregado bastante ação, não conseguiu capturar o que tornava o original tão importante para o gênero em primeiro lugar.
O Homem do U.N.C.L.E. Abriu Caminho para Décadas de Mídia de Super-Heróis
O Homem de U.N.C.L.E. acompanha as aventuras de dois espiões, Napoleon Solo (Robert Vaughn) e Illya Kuryakin (David McCallum), que trabalham para uma organização internacional secreta conhecida como U.N.C.L.E. (Comando de Rede Unida para a Lei e a Execução). A série se passa no contexto da Guerra Fria, com Solo, um agente americano, e Kuryakin, um operante russo, formando uma parceria improvável.
A popularidade da série levou ao lançamento de uma série de romances relacionados, incluindo O Caso da Adaga e O Caso do Arco-Íris, entre outros.
A missão principal deles é parar uma perigosa organização criminosa chamada THRUSH. Cada episódio geralmente apresenta Solo e Kuryakin se infiltrando, investigando e enfrentando os operários da THRUSH em cenários cheios de ação. Com a ajuda de seus colegas e agentes da U.N.C.L.E., a dupla luta contra espionagem, sabotagem e gadgets de alta tecnologia.
O Homem de U.N.C.L.E. Mudou a História da TV
No meio dos anos 60, durante a Guerra Fria e a fascinação do público em geral por agentes secretos, O Homem da U.N.C.L.E. se tornou um dos primeiros grandes sucessos do gênero. Desde o início, o programa apresentou uma nova perspectiva sobre o gênero de espionagem. Ao contrário das histórias de espionagem mais sombrias e sérias da época, como os filmes de James Bond, O Homem da U.N.C.L.E. ofereceu uma abordagem mais amigável para a família sobre espionagem.
Conforme a série avançava, ela se tornou uma das maiores sensações da TV. O que diferenciava The Man From U.N.C.L.E. era seu tom leve, que contrastava com os dramas de espionagem típicos da época. E a dinâmica entre os dois protagonistas contribuiu para isso. A confiança audaciosa do americano Solo se contrapunha à atitude fria e reservada do russo Kuryakin, criando uma química que influenciaria duplas de TV futuras, como Starsky and Hutch ou Mulder e Scully. O programa também popularizou o conceito do agente secreto como um personagem principal. Antes de The Man From U.N.C.L.E., as séries com temática de espionagem frequentemente estavam imersas em temas políticos, e os personagens tinham uma seriedade que refletia a era da Guerra Fria. U.N.C.L.E. desafiou essa tendência ao tornar o gênero mais acessível, utilizando ação com humor e até mesmo brincadeiras leves entre seus personagens.
Ao longo da exibição da série, Illya ganhou tanta popularidade que David McCallum recebeu mais cartas de fãs do que qualquer outro ator na história da MGM.
O Homem da U.N.C.L.E. também teve um papel importante na forma como os programas de TV eram divulgados e geravam expectativa. Estreando em 1964 na NBC, a série inicialmente teve dificuldades para se vender. Apesar de uma premissa forte, ela lutou para encontrar seu público, sendo constantemente superada por programas como McHale’s Navy e The Red Skelton Hour. No entanto, seus criadores logo perceberam que uma mudança de estratégia era necessária. Eles reposicionaram o programa para um público mais jovem, enviando o elenco em turnês promocionais e mudando-o para horários mais amigáveis para os adolescentes. Essa mudança em direção ao engajamento ativo dos fãs acabaria por mudar a forma como as redes de televisão abordavam a promoção de programas, com um foco crescente na criação de comunidades de fãs.
O Remake de 2015 de Guy Ritchie Não Foi uma Adaptação Direta
O remake de 2015 de The Man From U.N.C.L.E., dirigido por Guy Ritchie, é um filme divertido e repleto de ação, mas se desvia do que tornou a série original tão icônica. Embora o filme consiga capturar um pouco do charme da série dos anos 60, ele acaba mudando o foco de maneiras que o tornam menos um remake e mais um derivado moderno.
Diferente da série original, que apresentava ação, humor e tramas mais intelectuais, o filme se concentra na fisicalidade—cenas de luta, perseguições de carro e combate corpo a corpo. Isso faz sentido, considerando o orçamento maior do filme e as expectativas modernas, mas vem à custa do trabalho de espionagem característico da série. Na série, grande parte da empolgação vinha de Solo e Kuryakin superando seus inimigos, confiando em tecnologia, táticas inteligentes e suas personalidades distintas para derrotar vilões. O filme de 2015 é mais sobre confrontos físicos do que os gadgets de alta tecnologia e as artimanhas de espionagem do original.
A parceria entre Solo e Kuryakin também era diferente. No programa, a parceria americana-russa deles não era o foco de todos os episódios. As diferentes nacionalidades eram reconhecidas, mas não ofuscavam o trabalho em equipe. O programa se esforçava para manter a política fora de suas interações, mostrando-os como colegas em primeiro lugar, com respeito mútuo pelas habilidades um do outro. No filme, no entanto, essa parceria começa com desconfiança e tensão, com ambos os personagens se vendo como potenciais inimigos. Em vez de mergulhar em seu passado compartilhado e fazer a relação parecer mais real, a conexão deles é um processo lento, algo que vai se desenvolvendo ao longo do filme. Embora isso funcione como um arco de personagem, tira um pouco da dinâmica descontraída que tornou o programa original tão memorável.
No entanto, uma das maiores mudanças no filme de 2015 é a ausência da THRUSH. A organização era um vilão simples, quase cartunesco na série, o que era parte da diversão. No filme, a vilã, Victoria Vinciguerra, e sua organização são mais glamourosas e sofisticadas, com uma influência mais ampla. De certa forma, o filme perde um pouco da diversão episódica que tornava o programa tão envolvente semana após semana.
A falta da THRUSH também remove parte do humor original da série. A série de TV, por natureza de sua época, frequentemente se desviava para o camp. Era um produto da década de 1960, e sua natureza ligeiramente exagerada, com personagens coloridos e tramas exageradas, se tornou parte de seu charme. O filme de 2015, por outro lado, evita o campismo do original e adota uma abordagem mais elegante. Embora ainda haja muitos momentos estilosos e trocas de diálogos inteligentes, o humor do filme parece mais contido, focando mais na troca de farpas entre os protagonistas do que nas situações absurdas em que os personagens se encontravam durante a série de TV. Essa mudança faz com que o filme se pareça mais com um filme de ação convencional e perca um pouco do humor peculiar e irônico que tornou o original um clássico.
Na terceira temporada, a série mudou seu estilo, adicionando mais comédia para se aproveitar da tendência do “camp” que estava em alta na época, graças a programas como Batman (1966) e Uma Espiã Muito Louca (1965).
Muito antes dos thrillers de espionagem modernos conquistarem a atenção do público com ação, O Homem do U.N.C.L.E. apresentou uma abordagem refrescante do gênero que era ao mesmo tempo leve e repleta de ação. O programa também desempenhou um papel importante na mudança do marketing na TV e no engajamento dos fãs, mudando seu foco para atrair um público mais jovem e estabelecendo um padrão para como os programas seriam promovidos. Ao concentrar-se em táticas inteligentes, tecnologia e na relação entre seus dois protagonistas, O Homem do U.N.C.L.E. ofereceu uma abordagem mais intelectual ao trabalho de espionagem, destacando-se dos dramas de espionagem mais sombrios de sua época. É um clássico do gênero que continua a influenciar a forma como as histórias de espionagem são contadas hoje.