Cujo, publicado pelo prolífico autor de terror Stephen King em 1981, desafia a narrativa convencional por ser um único capítulo contínuo em vez de ser dividido em uma série de capítulos. Dependendo da edição do romance, os leitores poderão percorrer de 304 a 432 páginas sobre o feroz cão titular, tudo isso sem ter um ponto de início e término definido para cada seção.
Stephen King Teve um Bom Motivo para Fazer Cujo Um Capítulo Contínuo
Para quem não está familiarizado, Cujo é um intenso romance de terror sobre um São Bernardo chamado Cujo, que normalmente é extremamente amigável. Ele pertence a Joe Camber, que trabalha como mecânico, além de sua esposa Charity e seu filho Brett. Um dia, Cujo segue um coelho até uma caverna subterrânea e é mordido por um morcego infectado com raiva. O cão antes adorável se transforma em uma fera feroz que acaba atormentando uma mãe chamada Donna e seu filho Tad quando eles visitam Joe Camber para um conserto de carro de rotina.
Pode parecer que Stephen King escreveu Cujo como um longo capítulo apenas para torturar seus leitores. Ele é um mestre do horror que sabe como contar uma história assustadora. Tendo isso em mente, criar uma narrativa trabalhosa sem divisões de capítulos definitivas parece algo que um gênio diabólico faria para intensificar o terror. No entanto, King não escreveu Cujo dessa forma apenas para ser sinistro ou maldoso. Ele tinha um motivo legítimo para fazer do romance um longo capítulo que não cede a pausas tradicionais.
Em uma entrevista para The Paris Review, Stephen King justificou suas razões para publicar Cujo sem quebras de capítulos. O autor de terror afirmou:
“Eu consigo me lembrar de ter pensado que queria que o livro tivesse a sensação de um tijolo sendo arremessado pela janela em sua direção. Sempre achei que o tipo de livro que eu escrevo—e tenho ego suficiente para acreditar que todo romancista deveria fazer isso—deveria ser uma espécie de ataque pessoal. Deveria ser alguém se jogando sobre a mesa e te agarrando, bagunçando sua cabeça. Deveria estar na sua cara. Deveria te incomodar, te perturbar.”
É um pensamento poderoso, e que parece funcionar quando se trata da experiência de ler Cujo. O livro pode não ser dividido em capítulos, mas é tão intenso e envolvente do início ao fim que é difícil largá-lo de qualquer forma. Os leitores sentem aquele “ataque pessoal” que King mencionou e a presença sinistra de Cujo logo de cara. Mesmo que o leitor não consiga consumir o romance inteiro de uma vez, ainda assim sente o efeito persistente do livro mesmo ao colocá-lo de lado. A falta de quebras de capítulos é parte da razão pela qual essa sensação ocorre em Cujo. É o tipo de história repleta de desespero que se beneficia da ausência de quebras. Uma pausa na tensão significa que pode haver algum tipo de esperança. Ao contar a história em um único pensamento contínuo, King está comunicando ao leitor que eles podem abandonar toda a esperança enquanto leem. Esta será uma história sombria, sem final feliz.
A Adaptação para o Cinema Oferece o Mesmo Nível de Intensidade que o Livro
Filmes normalmente não são divididos em capítulos, mas ainda existem maneiras de os cineastas proporcionarem ao espectador um momento de alívio da tensão. Como uma adaptação fiel de Stephen King, Cujo prioriza uma apresentação detalhada dos personagens, acompanhada de um aumento gradual da tensão. O filme, que foi lançado apenas dois anos após a publicação do romance, tem apenas 93 minutos, e cada momento conta de alguma forma para aterrorizá-los.
Toda a duração de Cujo é imersa em ansiedade. Tudo começa cerca de 15 minutos após o início, quando Donna avista Cujo se aproximando. Ela pega Tad por preocupação, mesmo sabendo que o cachorro não é perigoso. A partir daí, o público fica em constante expectativa pelo retorno do São Bernardo raivoso para atormentar Donna (Dee Wallace) e Tad (Danny Pintauro). Ele ameaça Brett do lado de fora, na névoa, babando e rosnando com a boca ensanguentada. Ataca outro mecânico e depois desaparece. Finalmente, o filme se torna mais intenso quando Donna e Tad ficam presos em seu Ford Pinto amarelo de 1978 na entrada da garagem de Joe Camber. O público nunca sabe quando Cujo vai atacar ao longo do filme.
Embora a versão cinematográfica de Cujo seja uma adaptação em grande parte fiel ao romance de Stephen King, existem algumas diferenças importantes. A maior discrepância está no final. No livro de King, o menino Tad, de quatro anos, acaba morrendo de insolação e exaustão após sua angustiante experiência enfrentando o São Bernardo raivoso. No filme, Donna consegue se proteger e proteger Tad ao matar Cujo antes que ele possa atacá-los. É um final mais feliz que é um pouco mais aceitável para o público que vai ao cinema.
O monstro nunca morre. Lobisomem, vampiro, zumbi, criatura innominável das terras devastadas. O monstro nunca morre.
O final sombrio apresentado pelo livro parece estar em sintonia com a decisão extrema de narrativa de nunca dar ao leitor um momento para respirar por meio de quebras de capítulo. Stephen King escreveu o romance para ser envolvente, violento, vívido e intenso a cada momento. Desde o começo, o livro oferece um presságio ominoso com a frase: “O monstro nunca morre. Lobisomem, vampiro, ghoul, criatura inominável dos esgotos. O monstro nunca morre. Ele veio para Castle Rock novamente no verão de 1980.” Cujo acaba sendo esse monstro.
Stephen King Se Esforça para Criar Tensão em Seus Livros e Filmes
Stephen King é famoso por não gostar de muitas das adaptações cinematográficas e televisivas de suas obras publicadas. Surpreendentemente, ele não teve nada de negativo a dizer sobre a adaptação para o filme de Cujo. Em uma entrevista de 2014 para a Rolling Stone, o autor elogiou o filme, chamando-o de “fantástico” e uma adaptação fiel de seu romance. Isso é um grande elogio para um autor que tende a ser cético quanto à transformação de suas obras em séries ou filmes.
É fácil entender por que Stephen King gostou da versão cinematográfica de Cujo. Os personagens são escritos de forma magistral, parecendo pessoas autênticas. O público pode facilmente acreditar que Donna é uma mãe que faria qualquer coisa por seu filho, Tad. Não apenas os personagens são totalmente desenvolvidos no filme, mas também há sequências de ação fantásticas em que Cujo ameaça um dos personagens. Todas as cenas no Ford Pinto de 1978, especialmente quando Tad começa a chorar e gritar, parecem dolorosamente reais.
No geral, as versões do filme e do livro de Cujo compartilham um nível palpável de tensão. O livro alcança isso através da escrita habilidosa de Stephen King e da ausência de quebras de capítulos, enquanto o filme consegue isso ao desenvolver os personagens, utilizar trilhas sonoras bem cronometradas e, acima de tudo, filmar as cenas com Cujo de forma que elas pareçam autenticamente ameaçadoras.
Às vezes, leitores ou espectadores precisam ser bombardeados com horror
No final das contas, as quebras de capítulo em livros oferecem um agradável alívio psicológico para os leitores. Em um nível cognitivo, essas pausas na história permitem que o autor comece em um novo ponto e quebre um momento de tensão. O leitor, por sua vez, se sentirá realizado e como se tivesse encerrado sua sessão de leitura, colocando um laço bonito em tudo.
Stephen King tirou essa tranquilidade ao escrever Cujo sem nenhuma quebra de capítulos. É uma decisão criativa que apenas serve para tornar o livro mais assustador e imponente do que seria se houvesse capítulos numerados.
Essa mesma natureza imponente se estende à adaptação cinematográfica. Uma vez que o São Bernardo se torna raivoso, os espectadores são constantemente bombardeados com cena após cena dele à espreita. Ninguém parece estar seguro durante o filme, e tudo começa no início, com Tad achando que viu um monstro com olhos amarelos e dentes à mostra em seu armário. A situação só se intensifica quando Tad e Donna enfrentam Cujo mais adiante no filme.
Cujo é um dos personagens mais desprezíveis de todo o universo de Stephen King. O filme reflete o livro ao deixar a ideia de um monstro se instalar na mente dos espectadores muito antes de Cujo ser revelado como o verdadeiro monstro ameaçador que Tad temia o tempo todo. É a contenção que existe em ambas as adaptações que torna a história tão assustadora. O tom sombrio e ameaçador permanece constante do início ao fim.
Cujo, um amigável São Bernardo, contrai raiva e inicia um reinado de terror em uma pequena cidade americana.
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